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"CACASO: MAIS LEVE QUE O AR"


Engraçado como o Cacaso conseguia ter muito de Manuel Bandeira e da musicalidade da Cecília Meirelles já em seu primeiro livro "A Palavra Cerzida", publicado por José Álvaro Editor, em 1967. Contudo, ao mesmo tempo em sua poesia tinha muito do poema-minuto do Oswald de Andrade, de irreverência, humor, lírica e ao mesmo tempo ácida, especialmente em sua segunda fase poética, na década de 1970.


Em suas letras havia aquela preocupação de retratar um Brasil um tanto quanto desconhecido do grande público urbano, principalmente das grandes cidades da Região Sudeste. Muito de Catulo da Paixão Cearense; a visão do Brasil rural; dos ditos populares; fauna e flora endêmicas de certas regiões, além da observação atenta do vazio e paradoxalmente tão cheio dos sertões mineiro e nordestino, vide "Canudos", "Branca Dias" e "Lero, lero", as três com Edu Lobo; "Carro de bois", em parceria com Maurício Tapajós e ainda “Lambada de serpente", com Djavan.


Mesmo com todas essas influências dava para perceber que o poema e/ou letra eram do Cacaso, como bem lembrou Edu Lobo em depoimento para o documentário sobre o vate. Porque ele imprimiu seu ethos em cada uma dessas produções, seja na poesia, mesmo na inicial, seja especialmente na sua produção de letras de música, na qual ficou mais popular e exerceu o seu ofício de poeta, aquele de falar para as massas de forma simples, exata, porém, com sustância ou sustança (acho que ele gostaria mais deste segundo vocábulo).


Tudo isto está nos poemas deste novo volume "Cacaso: Poesia Completa/2020". Que bom tê-lo entre a gente neste novo trabalho tão completo quanto o possível no momento, pois existiu uma coletânea anterior intitulada "Lero, Lero", que não deu para abarcar toda a produção de um poeta tão profícuo e polivalente quanto ele, ainda que tanto tempo depois de ter partido, antes do combinado, por sinal!


Euclides Amaral (poeta-letrista e pesquisador de MPB)