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Novela histórica de Luís Pimentel relê a Conjuração dos Búzios (Bahia, 1798)


"Está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que seremos irmãos, em que todos nós, pretos, pardos, brancos ou de qualquer cor, seremos iguais". Assim, um panfleto visto pelo poeta e mensageiro estabanado Gregório Alves revela a alma de "Esconjuro! A corda e o cordel na Revolta dos Alfaiates", novela histórica do jornalista, compositor e escritor premiado Luís Pimentel que chega agora às prateleiras pela Pallas Editora (88 páginas e belas ilustrações de Daniel Viana).

Gregório, também conhecido como Berimbau do Bonfim, recebe a incumbência de levar às famílias do Recôncavo a notícia do enforcamento de quatro mártires da Conjuração Baiana, que pipocou em 1798: Manuel Faustino dos Santos Lira, João de Deus Nascimento, Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas, líderes do movimento que repudiava a escravidão, aspirava separar a Bahia de Portugal e queria atender às reivindicações do povo. A inspiração veio da Revolução Francesa: escravos e negros forros, frades e soldados, profissionais liberais e artesãos de toda a sorte lutaram por liberdade, igualdade e fraternidade.

A narrativa nos desperta para o presente, sem se furtar de anunciar o porvir. Ao virar as páginas, somos conduzidos aos lugares, tamanha a riqueza de detalhes do texto. A antiga Bahia é, ela mesma, um personagem crucial da trama de Pimentel, repleta de negros fictícios e reais ao mesmo tempo, suados por causa do calor de Salvador, mas, sobretudo, pelo trabalho braçal, sonhando com um futuro mais digno como é comum na história da humanidade, sempre oprimida e rebelde, entremeando mentiras com a busca pela verdade, sempre desejada e utópica, como a própria liberdade.

"Cores, sabores, escuridão, saberes milenares. Mandinga, ginga dos capoeiras a driblar as ciladas da ira. Catinga também: da podridão dos poderes absolutos, que jamais enforcarão de vez os delírios de uma sociedade igualitária. Que nunca esquartejarão a integridade dos corpos sedentos de amor e liberdade", escreve Chico Alencar, no prefácio. Depois de explicar que "esconjuro" quer dizer "maldição, exorcismo, imprecação", o professor de história, escritor e parlamentar afirma que o livro de Pimentel "traz força, tão urgente nesses tempos de distopia, para amaldiçoarmos todo ódio, exorcizarmos todo preconceito, fazermos forte imprecação contra toda opressão".

Nascido no sertão da Bahia, Luís Pimentel é autor de mais de 50 livros, publicados por cerca de dez editoras – “Esconjuro!” é o quarto pela Pallas. Sempre foi fascinado pela Revolta dos Alfaiates, mal sucedida por conta de uma denúncia feita por Carlos Baltasar da Silveira ao então governador Fernando José de Portugal e Castro. Os conspiradores foram pegos em flagrante no Campo de Dique, em 25 de agosto. Ao todo, 49 pessoas foram presas e os quatro líderes, enforcados e esquartejados, além de expostos em praça pública para reprimir futuras revoltas, o que não aconteceu. Nos anos seguintes, houve a independência (1822), a Revolta do Malês (1835) e a abolição da escravatura (1888).