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Rogerinho & Virgílio


Com alguns ele era obrigado a falar, mas com mulher feia falava somente o indispensável. Na verdade, evitava ao máximo qualquer relação com mulher feia.Não que Rogerinho fosse bonito. Pelo contrário, era um cara feio. Feio pra burro. A ponto de chegar de moto em algumas ocasiões e a mulher comentar: “Você fica melhor de capacete”.Esse era o Rogerinho. Feio e implacável com as feias. Parafraseava Vinícius: “As muito feias que me desculpem... Mas que se fodam!” Arrematava sem pena, nem cerimônia. Tinha uma teoria sobre trubufus, jaburus, mocréias e afins. Dizia que trubufu tinha que ser tímida. Não havia nada pior do que trubufu desinibida, muito alegre e falante. Outras vezes pedia conselho aos amigos: - O que eu digo quando ela me diz: “Com essa cara nem pensar!”? E dava uma gargalhada, mostrando fotos de deusas de biquíni posando na varanda da sua cobertura na Barra. Ajudava bastante ter uma boa máquina fotográfica. Rogerinho exercitava sua criatividade com as gatas dizendo que trabalhava pra irmã, que tinha uma grande loja de marcas em Curitiba e que iria fazer um book pra loja, etc.. etc.. Com modelos daquele naipe, não tinha como errar. As fotos ficavam lindas. E algumas até pagavam para serem fotografadas por ele, para fazer o tal do composite ou book de modelo. Outras, ele pagava para fazer fotos com ele. E eram muitas. Eram tantas que chegou a incomodar a vizinhança... Ou as mulheres dos maridos da vizinhança. Educadamente, quase mandou a síndica tomar no rabo quando ela quis limitar a subida nos elevadores para, no máximo, três gatas por dia. Colocava música bem alto para dar um clima nas fotos. Um som de despentear vizinho saía de suas caixas JBL, com falantes de 18, subwoofer, cinco ponto um e o cacete a quatro. O som fazia girar a peruca do advogado, morador do 302.Já o senhor do andar de cima, nunca mais teve prisão de ventre, graças às levadas de baixo e do suingue da black soul music de feras como Prince, The Tower Of Power, James Brown, Sly And The Family Stone, Otis Redding, Aretha Franklin, entre outros com esse naipe de cacetada sonora.O pessoal da obra do edifício ao lado parava para assistir as sessões de foto. A peãozada toda boquiaberta diante do desconhecido. Silêncio e respeito. Rogerinho costumava usar a iluminação natural do pôr-do-sol no Recreio. O fundo das fotos, com motivos indianos, saía lindo. Eram cangas depraia presas com fita crepe na parede lateral. Mas, no meio... O recheio: uma princesa, de biquíni e top de oncinha, sorrindo pra todo mundo que via a foto.Pela manhã, Rogerinho passava em todas as praias. Ao entardecer, vistoriava todas as academias e à noite ia a todos os points possíveis ao garimpo de mulher bonita. E não bastava ser bonitinha, nem bonita, tinha que ser muuuuito bonita, corpo, cabelo, uma bela bunda, peitos perfeitos... Com o tempo, e os milhões de dribles e foras recebidos, Rogerinho perdia cabelo e ganhava experiência. Ficava cada vez mais exigente. Chegava no meio da galera da praia e provocava: - Quero ver se acho minha cara-metade nesse final de semana. Onde você acha que eu procuro?- No ferro-velho. Alguém respondia.Outras vezes, Rogerinho brincava com um fundo de verdade:- Você acredita que há trinta e dois anos eu não entro numa livraria?  E dava uma gargalhada sacana.Às vezes aterrissava na praia uma mulher do tipo madrinha de bateria. Dessas que de tão gostosas dão medo da gente perder a fala. Mas Rogerinho chegava com jeito, e em cinco minutos ela e ele já estavam às gargalhadas. Em dez minutos já tinha dado seu cartão ou anotado o celular da mulher... No dia seguinte, ela já estava em seu apê impressionada, de biquíni e top, vendo a qualidade das outras modelos e das fotos. Empinava o corpanzil para mais uma pose com elogios rasgados do fotógrafo Rogério Cavaliere Grael. Grael passou a editar e sonorizar as fotos que fazia num programa do computador:- Depois que passei a usar bunda larga no meu computador... Minha vida mudou!E explicava que o Grael era por parte de pai.Rogerinho não é casado, não namora, não bebe, não se droga, não fuma... Seu negócio é mulher! Ele só falava sobre esse seu lado secreto com os amigos mais íntimos. Aí, como diria James Taylor, ele se regozija falando das novas descobertas.- Valquíria, uma deusa de Vila Isabel! A Sheilinha, da Urca, tive que esperar o namorado dar um mergulho pra conseguir o telefone... Brunela, uma verdadeira miragem na praia em frente ao Country Clube... Quem tava comendo era um diretor da Globo que usava seu poder para foder.Falava também de boca cheia de uma tal de Sílvia...- Há cinco anos que eu tento fisgar esse peixão! Só jogando isca e dando linha... Só dando linha pra cansar o peixe. Essa semana finalmente eu botei no barco!Cada dia uma deusa diferente posava o rabo na cobertura dele para ser fotografado. Rogerinho não fazia nu. Os amigos ficavam putos e comentavam educadamente:- Porra, faz nu... Queremos ver peitão, bunda livre e tudo mais!- Não, nu não faço. Dá problema com pai, mãe, namorado. Eles ligam querendo negativos... Tenho que encarar cada fera, que você não acredita. É namorado lutador, advogado, mãe de santo, pai bicheiro, irmão juiz, marido policial... Não é mole não! Para pequenos e intensos momentos de prazer há uma cota grande de sacrifício. Mas, no meu ofício, o orifício compensa!Rogerinho tem um armário embutido entupido com produções de roupas femininas das melhores marcas. Bodies, biquínis, suéteres, casaquinhos, shortinhos, tops... Quem não conhece Rogerinho acha que ele é veado.Se ele come 10% das mulheres que freqüentam seu apê, já é sensacional pra qualquer mortal normal.Mas a felicidade tem seu preço. Rogerinho bancava várias! Para umas, pagava academia, celular, supermercado, até pequenas reformas na casa delas... Para outras, bancava peito de silicone, uma lipozinha corretiva aqui, outra ali... Dizia que estava investindo no seu próprio prazer. Pra umas e outras, dava até carro...Quando elas escreviam dedicatórias nas fotos pra ele e diziam: “Para Rogerinho, meu amigo do peito”, é que ele tinha pagado uma prótese de peito. Quando escreviam: “Você deu direção a minha vida”, é porque tinham ganhado um carro.Rogerinho não era rico, mas tinha uma situação boa garantida pela fábrica de colchões da família. Contam a pau pequeno, que a família dava uma mesada pra ele ficar longe dos negócios... E era assim que a banda tocava.Um belo dia, Virgílio Manissero, dono de lojas de biquíni e amigo de Rogerinho, apareceu deprimido. Virgílio era um paquera profissional desde 1970. Agora, com cinqüenta e muitos, não tinha a agilidade necessária para a prática do esporte de caçar mulher. Aproveitou a visita para se abrir com oamigo Rogério:- Pois é, minha ex-mulher é foda, já me enfiou na décima sétima vara outra vez! É muita vara... E vara com areia, porque eu estou esgarçado com a pensão que ela me cobra e não é só isso, é blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá!O bicho tava tão triste que comoveu Rogerinho. Fato raríssimo. Rogerinho sacou sua cobiçadíssima agenda e apresentou o número da Andréa Lea. Andréa Lea era uma morena fogosa, de um metro e oitenta de ação. E o Rogerinho confessou à boca pequena que Andréa Léa aceitava uma remuneração disfarçada de ajuda de custo e fez o contato com a nave-mãe. Por milzinho ela visitaria o Virgílio naquela mesma tarde. Virgílio ficou emocionado. Topou os milzinhos. Fôda-se. Rogério aconselhou o amigo a tomar um produto, porque a morena era forte e vinha pra cima com fome de canibal.Virgílio foi para casa correndo e, antes de tomar um banhão de espera, mandou pra dentro meio Cialis de trinta e seis horas e um Viagra de 120mg, pra não ter erro. Era disso que ele estava precisando. Serviu-se de um uísque com gelo e mergulhou na banheira com espuma do hotel da última viagem.Banho tomado, deu uma geral básica na casa e na cama. Vestiu uma cueca vermelha. Tirou a cueca vermelha. Achou melhor estar pelado embaixo da bermuda, pra ela logo sentir a pressão. Colocou na geladeira uma garrafa de prosecco, umas taças de salada de frutas e iogurte para oferecer. Tudo certo. Suspirou pensando que estava merecendo uma noite dessa.Colocou um som. “Sexual Healing” do Marvin Gaye, com Ben Harper & Innocent Criminals. Fechou um pouco a cortina e acendeu um abajur para dar um clima. Gostou. Sentou nervoso e ficou esperando o interfone tocar. O interfone tocou. Três e meia da tarde. Era ela. Ele esperou, no olho mágico, a portado elevador abrir. A porta abriu. Era ela, a Bela da Tarde! Veio num vestido preto tipo “gostosa pra caralho”. Ele deu um tempo observando e fingindo que não estava ali... E abriu a porta com o coração na mão, a outra mão no bolso e no pau. Apesar de toda experiência ele ainda ficava nervoso. Oi, oi...Vamos entrar. Enquanto abria o prosecco sentiu o saco dar uma repuxada estrebuchando e seu pau latejar. Sorriu confiante com o resultado do efeito dos remedinhos. Bem na hora. Na hora agá! Enquanto tirava a camisa, alegando calor, e exibia o volume no bermudão, falava dos contatos que tinha com o pessoal da Playboy, da Sexy e de revistas masculinas em geral. Dizia que ela tinha o perfil e a bunda que interessava aos caras... E que também era muito amigo de diretores das novelas das seis, das sete e das oito. Se ela quisesse, ele a colocaria como protagonista de novela ou minissérie.Virgílio seguia os conselhos de Rogerinho, seu guru. Dizia tudo que ela queria ouvir. Andréa Lea, diante de tais promessas, já estava de peito de fora e balançava-os indo só de calcinha ver a vista da janela com Virgilinho grudado atrás.Quando ele tirou o bermudão, ela falou:- Aceito uma salada de frutas.Virgílio foi rápido, pelado, pegar a salada de frutas na cozinha e quase bate a porta da geladeira com o pau dentro. Ele volta com uma taça em cada mão e com dois guardanapos pendurados no pau, só pra se exibir. De repente, do nada, toca uma música tecnohouse que chega a assustar Virgílio, quasederrubando as saladas.- Que porra é essa?! Era a porra do celular da Andréa Lea, que só parou quando ela disse:- Alô?!- Puta que o pariu, por que eu mandei ela atender?! Lamentou Virgilinho. Ela atendeu. Sabe o que ela falou tapando a boca do celular?- Desculpe, amor... É que pintou um trabalho de dois mil. Eu tenho que correr atrás...- Como assim?! Atrás de quem?! Virgílio se arrepiou.- Não, peraí!... Você tem um trabalho comigo de mil. Disse Virgílio, contando o ocorrido proRogerinho. E ela disse:- Eu sei, amor... É que eu estou precisando dessa grana... A menos que você cubra a oferta!- E você cobriu? Quis saber Rogerinho.- Cobri ela de porrada. Dei-lhe um tapão de pau duro. Ela desceu o elevador vestindo a roupa e me xingando de tudo. Quarenta minutos depois toca o interfone de novo. Era ela. Ela e uma delegada. Fui acompanhado por duas policiais pra Delegacia de Mulheres. Lá, meio constrangido, contei toda asacanagem antes da sacanagem. Prestei depoimento e paguei fiança de dois mil reais. De pau duro, você acredita? A sorte foi que antes de sair de casa pra delegacia, eu tinha amarrado um suéter na cintura, pra disfarçar o volume da “jarda”. Acho que chamava mais a atenção porque o dia estava quente pra caralho. Na saída da delegacia, a delegada disse que tinha meu endereço e que, se tivesse alguma dúvida, apareceria pra esclarecê-las comigo. Concordei. Dez horas da noite toca o interfone. Era ela.- Andréa Lea?!- Não. A delegada!- Você ta brincando?! O que ela fez?!- Umas perguntas de praxe. Eu respondia e observava. Ela elogiou a decoração. Eu tenso e sacando. Quis ver umas fotos de modelos. Tirou o casaco. Olhou o computador, logo no primeiro e-mail. Era um de sacanagem que você me mandou... Foi foda. A delegada abriu a porra do computador e tavalá: uma loura sentada num croquete. Pegou mal... Maior bucetão fincado numa vara, ali, na cara da delegada. Apaguei rápido, me desculpando. Disse que era de um sobrinho desgraçado. Ela sorriu enigmática, fingindo que acreditava. Pensei: “me fudi”. Ela saiu do escritório e entrou no quarto.Pensei: “Porra, delegada pode tudo?” Continuou até a minha cama, deu uma olhada nas minhas roupas, enfiou as mãos nos bolsos... E eu só sacando. Ela deu mais uma olhada no armarinho do banheiro e quis saber sobre o efeito do remédio. Mostrei. E não é que eu acabei comendo a delegada, rapaz?!