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Luz no fim do túnel? Nem vela!


Venho pensando há algum tempo sobre algumas notícias, das tantas que rolam, que profetizam que o jovem seria a salvação do Brasil, e, bem... Fiquei assustado e incrédulo com a última afirmação do tipo. Eram um psicanalista, um professor e um analista político que dialogavam num debate na TV com certa arrogância, emitindo informações equivocadas. E o que foi mostrado me deixou meio sem lenço e sem documento. Que jovens são esses? Não vejo, na média dessa geração, nenhum traço de personalidade que sinalize para uma liderança política, social ou educacional. O que vejo é descaso, uma afronta às instituições democráticas, homofobia e preconceitos. E mais: uma falta de respeito com o ser humano que chega às raias do chocante.

A cidade deixou de mostrar para o país seu bronzeado e suas cores, sua ginga, suas lutas políticas, suas passeatas que entraram para a história. O Rio virou “cinquenta tons de cinzas”: andamos nos esgueirando entre montículos tediosos e tristes do que restou de um lugar cheio de tesão e irreverência.

Em pleno século 21, o universo da vida política encontra-se muito longe das mentes dos jovens, mais focados em bens materiais e consumo. Vejo com muita preocupação essa situação. A juventude carioca desaprendeu as regras básicas do bom senso, numa metrópole que já teve tantas glórias políticas. A sensatez, como diz a música da Blitz, fugiu, desapareceu, escafedeu-se. Virou uma nuvem negra.

Quem vos fala sobre o Rio de Janeiro dos anos 60/70 estava lá - e como estava! – descobrindo pessoas, modismos e loucuras. Essa foi a melhor parte. Como sou uma esfinge, o que aconteceu ali, acabou ali. Não vou entrar em detalhes. Quem me conhece, sabe a resposta. Até porque não estou aqui para falar de mim. Mais que foi bom, foi. E muito!

Os anos 6O/70, que agora parecem tão longínquos – um sambista de escola de samba poderia até chamá-los de “tempos imemoriais” - foram o divisor de águas do comportamento humano. Foi uma época de liberdades, de rebeldia, guerras e de gurus. Jack Kerouac, Timothy Leary, Carlos Castaneda formavam o trio do desbunde. A descoberta do ácido lisérgico ficou musicalmente registrada pelos Beatles na canção “Lucy in the Sky with Diamonds” e esse Lindo Sonho Delirante colocou o mundo para viajar. Tem gente que nunca voltou. Mas isso é outra história.

Foi uma década de drogas, sexo e rock and roll, sim! Eram os anos de chumbo simultaneamente, mas, nos bastidores, a vanguarda carioca, mesmo na obscuridade e nas coxias, fazia a sua parte com maestria e inteligência. Tínhamos a nata da intelectualidade. Tudo acontecia. Parecia a Cidade Luz. O rock dava gritos com suas guitarras nos becos e guetos da cidade. Era o “rock dos porões”, Vímana, O Terço, A Bolha, que trituravam suas guitarras em solos primordiais e sempre à meia-noite. Era chamado o horário maldito, se fazia e rolava de tudo. O Píer de Ipanema era o epicentro do liberalismo, o crème de la crème do verão carioca. Pasmem. Debaixo das fardas dos generais.


Eu fico conversando com Marcelo D2 e me perco toda hora. Raider, se toca, caralho! Lembrei, porra! Eu estava falando do carioca sangue bom. Aquele lá atrás. Que levava porrada, mais não perdia a guerra. Quando a Cinelândia era o palco central do país. O ideal de todos, a democracia, tão abalada ultimamente.

O que me preocupa é não ver engajamento numa cidade que sofre mudanças políticas radicais, mas cujos habitantes parecem ter tomado um boa noite cinderela e estão quase todos se arrastando por aí, sonolentos. Há exceções, claro, gente que ainda acredita num país mais equilibrado e justo. Não estou fazendo paralelo com isso e nem com aquilo. Só acho que o jovem não pode, desta vez, ser chamado de salvação do mundo – ou do Brasil. Eu pergunto, esses jovens estão aonde?

Rio de Janeiro, a beleza continua, mas seus novos habitantes empobreceram e não tem mais savoir-faire. Intelectualmente, então! Tenho até vergonha de opinar. Pode soar como preconceito. Um desastre. Ficou “qualquer coisa” (obrigado, Caê!).

De volta ao futuro (2021), observo alguns cientistas e psicólogos, com suas teorias e certo pedantismo dizerem que os jovens dominarão o mundo. Eu fico meio perplexo com tais afirmações. Fico na expectativa e com certo receio. O cenário para tais afirmações me soa meio sem base. Não vejo nem um palito de fósforo aceso no fim do túnel com essa rapaziada, com suas cabeças fora do tom. Para ser sincero, isso me apavora. Deixamos: Chico, Caetano, Gil, Zé Celso Martinez Correa, Alceu, Amir Haddad, Novos Baianos, Deep Purple, Genesis, Yes, Pink Floyd, Rolling Stones, Gal. Enfim, um cenário absolutamente fantástico, de que a vida seria um eterno rock and roll. Que bom que será eternamente assim para quem viveu a experiência. Gostaria muito de levar fé nessa rapaziada, que ela mostrasse seu real valor. O Brasil não merecia essa descida de ladeira.


Paulo Raider