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Algo além dos cartões postais


Recordo a cena em toda a sua magia, ao ver o documentário Centro do Rio, produzido por Gláucia Camargos e Paulo Thiago, e dirigido por Haroldo Marinho Barbosa, para a TV Cultura. Agora, o espectador daquele cineminha imaginário quase não acredita no que está vendo: ele é o autor do livro (O centro de nossas desatenções, RioArte/Relume-Dumará, 1996), em que o filme foi baseado. E também o narrador da história, da qual não deixa de ser personagem, como o transeunte que vê a cidade diariamente, entre o susto e o mesmo encantamento de quando viu pela primeira vez. Em slides!

Agora o “cinema” de verdade. E agora é que é de perder a respiração. No centro da história – que é o centro da história da cidade e do país – e tratado com uma carioquíssima simpatia, está aquele que um dia deslumbrou-se ao ver as primeiras imagens do Rio de Janeiro, ainda que de forma precária. Agora, muito além de cartões postais, o que esse espectador tem diante de seus olhos é uma relação fulgurante entre o passado e o presente da cidade. “A cidade que nasceu pra mim / e que não tem mais fim, não tem mais fim” – como cantava o piauiense Torquato Neto. E a sobreviver a todas as invasões e destruições, numa realidade de violência ameaçada pelo caos, sem perder jamais a sua cinematográfica beleza.