Dois encontros com Glauber

Confesso, porém, que quando o ator Geraldo Del Rey me disse que Glauber Rocha havia marcado a entrevista para as 8 horas da manhã (e de um sábado!) achei que sua fama de doido tinha algum fundamento. Madruguei para chegar pontualmente à casa do Geraldo, onde ele estava hospedado. Nem acreditava que o famoso Glauber Rocha is receber um dos editores (o outro era o Franco Paulino) de uma revistinha metida a “artística” mas de pequena circulação, e que levava perguntas por escrito, para lhe dar mais trabalho ainda.

Pois era verdade. Ele estava de pé às 8 da manhã e me convidou para um café com pão e manteiga, no botequim da esquina. E mais: havia lida a revista de ponta a ponta e fez uma análise geral de todos os textos, cuidadosamente. No fim da conversa, prometeu entregar a entrevista na segunda-feira seguinte, na porta do cinema, onde me enfiaria para a pré-estréia do seu filme. E cumpriu o prometido. Finda a sessão, ele perguntou o que eu tinha achado. Disse-lhe: “É o seu filme definitivo.” Não diga isso. Ainda vou fazer muitos filmes.” E fez.

Quanto à entrevista, foi um sucesso. Sobretudo por uma frase, tipicamente glaubereana: “A técnica esconde o lixo.” Algo a pensar. Hoje.