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“Tambores & Baobás, resistência & consistência”


Quando se fala em nova geração de sambistas, com certeza, o subúrbio carioca é um celeiro profícuo neste quesito. À nova geração estou me referindo àquela que traz o legado de um Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Ratinho, Zeca Pagodinho e outros do mesmo quilate. Na verdade, o samba do lado de cá... e não aquele outro, o do lado de lá, que eu nem gosto de comentar, pois tem lá a sua missão a cumprir. Perceber que existem estes tipos de fazedores de samba, e com esta seara de referência, nos dá alento em frequentar as rodas de nossa localidade, um pouco esquecida por determinados poderes & serviços.


A tríade Marcelo Bizar (melodista), Marco Trindade (letrista) e Sílvio Silva (letrista) nos apresenta tal amostra no EP “Tambores & Baobás”, integrado por quatro faixas-simbióticas de letras e melodias. O trabalho abre com o ijexá “Rebeldia gingada” (Marcelo Bizar, Marco Trindade e Sílvio Silva), passeando pela contribuição da etnia Nagô com direito a berimbau, além do dueto com a linda voz de Lizza Dias. A faixa seguinte, o jongo “Tambor” (Marcelo Bizar e Sílvio Silva.), nos revela uma das mais antigas expressões de rodas de umbigada da Região Sudeste, a Cultura do Jongo, marca indelével de nossa carioquice fincada na Serrinha, trazendo parte do legado do Darcy do Jongo. Na composição “Camorim, O Quilombo” (Marcelo Bizar, Marco Trindade e Sílvio Silva.) temos um samba de roda, com direito à viola de 10 e que traz no dueto a bela voz de Lu Fogaça, dividindo com as palmas o tempo das notas, aludindo ao Quilombo de Jacarepaguá. Fechando o EP, no melhor da nossa tradição da Cultura Banto, o samba-enredo “Negro samba, vende peixe e se revolta” (Marcelo Bizar e Marco Trindade.), em uma alusão ao descontentamento geral, já registrado nos anais da história na “Revolta da Chibata”, de João Cândido.


As contribuições imprescindíveis dos músicos arrematam as músicas nas exatidões das notas: Júnior Silva (violão de 7 cordas); Sapuri (percussão); Téo Bahia (berimbau); Pakato do Cavaco (cavaco, produção musical e arranjos) e o próprio Marcelo Bizar na voz, violão de 6 e viola de 10 cordas.


Tambores e baobás, ambos ícones e representantes da nossa ancestralidade africana, estão bem registrados, em sua magia de influência, nessas quatro composições destes três malungos cariocas, bons se encontrar nas rodas de samba de resistência & consistência.


Euclides Amaral (poeta-letrista e pesquisador de MPB)