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O assessor


Quem me apresentou o deputado foda foi Fabinho, um velho amigo dos tempos de caveira. Trampamos juntos, no mesmo batalhão, e pulamos fora, ou fomos pulados, juntos também.


Só que fui pra rua sem levar nada nos bolsos, enquadrado no desvio de conduta. Até no xadrez fui parar. Fabinho ganhou a reserva, até hoje remunerada, pois já era amigo de um deputado mais foda ainda, desses que ficam em Brasília.


Só muito depois eu soube do parentesco entre um deputado e o outro. Meu amigo é um craque em escolher companhias.


Fabinho me levou para falar com o amigo dele lá naquele casarão imponente, onde os deputados todos se escondem. Mas não fomos recebidos ali, e sim num café de rua que fica nos fundos do prédio, desses que servem cafezinho em copo de plástico. Até estranhei, pois na época não manjava ainda as esquisitices do pessoal.


O deputado olhava pros lados o tempo todo, como se estivesse preocupado ou com pressa. Não estendeu a mão quando fomos apresentados. Apenas sorriu um sorrisinho de canto de boca, fez um gesto que parecia bater continência e foi logo querendo saber o que eu precisava.


"Um advogado", Fabinho se adiantou.


"Qual é a bronca?", ele quis saber.


"Homicídio".


O advogado sorriu: "Isso é mole pra nós".


Virou-se para mim: "Trouxe os documentos?"


"Que documentos?", eu quis saber.


"Todos. Para a contratação. Fabinho não explicou?”


"Tenho tudo aqui."


Assim eu virei assessor do homi. Cargo pomposo da porra. Tenho água gelada, cafezinho, biscoito e até secretária. Salário eu nunca vi. Vai direto pro Fabinho, que repassa pra quem tem que repassar.


Também, com tanta mordomia, pra que eu quero salário? Prefiro continuar com as gratificações por tarefas cumpridas. A bufunfa varia de acordo com a encomenda, que pode ser comerciante, milico, empresário, professor, vereador... Para cada um, uma tabela. O equipamento, carro, máscara, ferro, tudo por conta do patrão.


Ah, muleque! Vai reclamar de quê?!


(Luís Pimentel)