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Ainda o cinema francês


Fazendo uma rigorosa revisão dos diretores franceses, podemos ainda lembrar Jacques Feyder (La kermesse heroica), Jacques Demmy (os guarda- chuvas de Cherbourg), Louis Malle (Les amants, onde Jeanne Moreau fazia amor, nua, dentro de uma banheira), Jean-Luc Godard (Alphaville, Acossado, Viver sua vida) e, mais que esses, Renée Clement e Georges Henri Clouzot, casado com nossa Patrícia Vera Clouzot e diretor de O salário do medo (com Ives Montand), Les diaboliques (a amante e a esposa planejam matar o amante  e o marido, mas a surpresa final é bem diferente do plano inicial) e Le Corveau (O Corvo), cartas anônimas espalham o terror numa cidade pequena do interior. Há também Jacques Tati e sua obra prima de delirante humor Meu tio, As férias de Mr. Hulot, Tráfico e Playtime.

Não sei se você que me lê adora o filme francês. Eu, em princípio, não. Eu os acho em geral “filmes cabeças” demais. Os atores com a tendência a serem dialéticos, professores “explicando”, nem sempre atores, verdadeiros intérpretes. Mas, quando se trata desses diretores citados nesse e no outro artigo, a coisa muda de figura: Renoir, Clair, Carné e um que para mim forma com esses três o quarteto de gênios franceses: estou falando de François Truffaut.

Para falar de Truffaut, eu preciso do espaço inteiro desse simpático jornal só para o meu artigo. Vou começar dizendo, e isso é importante: duas paixões dominaram a vida de Truffaut – o cinema e sua própria vida e, talvez por isso mesmo, conseguiu ser um grande cineasta, na opinião dos maiores estetas que discutem cinema, além de chegar ao público com a maior facilidade.

Fora três pequenos curtas metragens, fez pelo menos 18 filmes importantes, nos quais não consigo encontrar nenhum realmente ruim. Excepcionais são: os autobiográficos Os incompreendidos e Beijos roubados, onde Truffaut é representado pelo seu ator favorito Jean Pierre Leaud.

Mas se você quiser aconselhar alguém a conhecer François Truffaut no seu esplendor, tem que pensar primeiro em Jules e Jim: dois amigos (Oskar Werner e Henri Serge) e uma amiga que surge entre eles (Jeanne Moreau) e vai destruí-los. Ela se casa com Jules (Oskar Werner) mas depois se apaixona por Jim (Henri Serge) e consegue fazê-lo seu amante. O amigo trai o amigo, mas depois se livra dessa terrível mulher e se casa. A mulher não perdoa: quando ele vai visitar o casal, ela diz que vai levá-lo de volta, é um plano terrível, ela corre como uma alucinada e joga o carro no mar.

O personagem de Jeanne Moreau (Catherine) é uma sereia perversa? Ou uma mulher que quer tudo da vida? Hoje, ela quer a paz, o amor de Jules, amanhã ela quer Jim e quando o perde, destrói a ele e a ela mesma. O personagem consagrou Jeanne Moreau.

E A noite americana (filme sobre o mundo do cinema), O homem que amava as mulheres (Truffaut é o próprio, um romântico pervertido que ama todas as mulheres que encontra) e em contraposição O quarto verde (onde mais uma vez Truffaut interpreta o homem que se fecha dentro de um mundo – o seu quarto verde – onde ninguém pode entrar), L’historie de Adele H, Isabelle Adjani, a revelação dessa excelente atriz. A mulher da casa ao lado é apaixonante: uma mulher casada e feliz vai morar ao lado de seu ex-amante, um neurótico que nunca a esqueceu (é de tirar o fôlego o trabalho de Gérard Depardieu e Fanny Ardant), L’enfant sauvage (a história de um menino abandonado que não encontra ambiente em lugar nenhum, incompreendido, visto como se fosse um bicho selvagem).

Truffaut é também excelente crítico e dele, entre outros livros, existe um livro/longa entrevista com Alfred Hitchcock, imperdível para quem gosta de Truffaut, de Hitchcock, enfim para quem gosta de cinema.