Loading...

Recomendações de fim de ano


La Mala Educacion. É um Almodóvar menor, talvez, mas é sempre Almodóvar. Um roteiro que engana o público várias vezes para chegar a um final excelente. O que mais me chamou atenção sobre esta “estréia” de Almodóvar foi a homofobia declarada de um crítico que não gostou do filme. Do jeito que ele fala, não gostaria nem se fosse uma obra prima. Não gostar do filme, direito dele. Não suportar o filme, direito dele também. Mas o mal em tudo isso é que ele revela em sua crítica um preconceito tão forte contra o homossexualismo, contra a temática homossexual, contra o cinema homossexual de Almodóvar.  Chega a assustar nesse nosso mundo pretensamente civilizado. Homofobia, gente. Estamos na beirada de 2005. Ainda?

Agora,  extraordinário  é o filme americano de Richard Linklater: Antes do Pôr do Sol. Com Ethan Hawke e Julie Delpy. Um casal se reencontra quinze anos depois de uma noite de amor inesquecível. E de um reencontro que não aconteceu. Durante quase duas horas, esse casal conversa, recorda e o filme nos prende todo o tempo. Inteligente, sensível, coisa rara neste mundo de filmes americanos de pura pancadaria e de efeitos especiais. Não sei se vocês se lembram de um filme que contava desse encontro de quinze anos atrás, que se chamava Antes do Amanhecer. Lembram? Mas eu acho que o segundo é mais bonito ainda. Bonito pode não parecer um elogio muito importante para um filme, mas Antes do Pôr do Sol é bonito no sentido humano. Da melancolia que deixa em cada espectador. Do que nos toca. E o que nos lembra do que perdemos por desatenção ou por falta de sorte. A boniteza é mostrar esta frustração com tanta delicadeza sem nenhuma pieguice. E o filme é americano!
Imperdível é Io No Ho Paura, Eu Não Tenho Medo. Filmado no interior da Itália, em Potenza. Um menino descobre... não vou revelar nada da história, seria maldade com vocês, mas esse menino descobre algo terrível que está acontecendo no seu meio e na sua família. Enfrenta esse horror como gente grande, gente grande não, mas como gente corajosa e solidária, gente rara nesse mundo. A direção é de Gabriele Salvatores. Imperdível.

E, quase no final de novembro, um filme brasileiro, unanimidade da crítica, Contra Todos, direção de Roberto Moreira. Com Leona Cavali, Ailton Graça, Silvia Lourenço e Giulio Lopes. Um filme completamente inesperado, audacioso, incômodo. Alguma coisa a ver com Amarelo Manga? Talvez, mas eu creio que o filme de Roberto Moreira incomoda mais ainda.

De cinema, esse ano há muito que escolher, mas meus filmes prediletos, os melhores de 2004 foram, sem dúvida, Dogville, de Lars von Trier, um dos melhores dos últimos anos, e O Retorno, filme russo contando a volta de um pai que sumiu de casa e um dia volta. A tentativa da relação com os dois filhos que nem o conheciam é algo terrível, dramaticamente sustentando todo o interesse do filme. A mãe, a mulher do homem que volta, está lá, mas o filme é quase todo o relacionamento entre o pai e esses dois filhos. Filme imperdível.

Tem mais: Invasões Bárbaras, do Dennys Arcand – Sobre Meninos e Lobos, com Sean Penn – Encontros e Desencontros, direção de Sofia Coppola, e muitos, ou quase todos esses filmes que eu citei na agenda de fim de ano.

Ao contrário do teatro, 2004 foi um ano bom para o cinema, inclusive para o nosso cinema, representado aqui por Fala Tu, Prisioneiro da Grade de Ferro, documentário de grande profundidade dramática, e o incômodo Contra Todos, de Roberto Moreira.

Já o teatro não andou muito bem em 2004. Gostar mesmo, só gostei de A Casa dos Budas Ditosos, direção de Domingos de Oliveira. Excelente atuação de Fernanda Torres, Equus, de Peter Shaffer, grande interpretação de Otávio Augusto e Macbeth, de Shakespeare, na interpretação de Stephane Brodt e direção de Ana Teixeira.

Tem mais, mas de bom mesmo foram esses três.