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Vamos falar de livros


Cidade Pequena começa com um crime e os personagens são gente muito variada, isto é, todas as classes sociais: literária, artística, todo o mundo nova-iorquino está no livro. O verdadeiro personagem é Nova Iorque que nós todos conhecemos, que é a Nova Iorque depois do 11 de setembro e do desaparecimento das Torres Gêmeas. A cidade perdeu o rumo e a população como que enlouqueceu: tudo que era ruim, piorou. O ex-tira Buckram é o herói que consegue prender o Carniceiro, assassino que ataca prostitutas, matando-as, às vezes com cortes precisos de navalha, que joga coquetéis molotov em bares e prostíbulos. Esse livro eu li em dois dias, e são à procura de outros do mesmo autor. Já li mais quatro.

Punhaladas no Escuro – Um serial killer mata oito mulheres. Quando é preso, confessa a autoria dos crimes, menos um. O pai da moça assassinada quer saber o que aconteceu com a filha, se não foi o serial killer, quem poderia tê-la assassinado.  Contrata um ex-tira para resolver o problema. Aí Brock se repete, só que agora o ex-tira é Matthew Scudder. Ele teve um motivo muito especial para largar a polícia, mas é sempre lembrado pelos colegas para esses serviços de investigação particular. Creio que a motivação que o outro assassino encontrou para matar a única que não foi assassinada pelo serial killer é das coisas mais extravagantes que li num romance policial.
    O terceiro livro que li: O ladrão que estudava Espinoza – um livreiro, Bernard Rhodenbarr e sua cúmplice, para não variar, uma figurinha difícil, a lésbica Carolyn, fazem assaltos espertos , tecnicamente perfeitos e altamente lucrativos. A livraria não o sustenta, os assaltos aqui e ali é que o mantém vivo e bebendo o seu café com Bourbon. Tem uma amante, Denise, a quem conta quase tudo, mas não tudo. No dia de mais um assalto, eles (Rhodenbarr e Carolyn) encontram joias de valor, o que seria o lucro do assalto, mas encontram também um níquel, um v-níquel, antigo, raridade que vale uma fortuna. Levam tudo isso a um receptador, aquele que recebe o resultado dos furtos, compra-os e os revende. Aí começam as confusões. O receptador paga pelas jóias não pelo níquel, que fica em suas mãos até ele que possa encontrar um comprador à altura. Dois crimes ligados ao níquel. Ele, Rhodenbarr, que a polícia conhece muito bem, é o primeiro suspeito. Livro de tirar o fôlego, ágil, divertido, personagens psicologicamente os mais exóticos, todos quase de um baixo mundo novaiorquino. O final? Não conto, não.

Um Baile no Matadouro repete o ex-tira Matthew Scudder, mas ele, que no outro livro era típico alcoólatra, desses que acorda e, mesmo antes do café, toma seu uísque para rebater a ressaca de véspera, agora é abstêmio e freqüenta reuniões do AA, os Alcóolicos Anônimos. Dos cinco livros que eu li, talvez seja o mais violento, o mais assustador, incluindo em seus temas assuntos tenebrosos como pedofilia, sexo e morte misturados para maior prazer, momentos de terror que lembram Edgar Allan Poe, mas nunca fogem de um realismo que assusta e só assusta porque sabemos que está ali na esquina, à nossa espreita. Block fala sempre do mesmo mundo que perdeu sua razão de ser. No final desse livro, duas surpresas: primeiro, quando não consegue provas para levar os “monstros” que perseguia até um tribunal, ele simplesmente faz justiça com as próprias mãos, nesse caso, bem armadas. É um final surpreendente, depois desse “ato de justiça” (Block nos faz aceitá-lo) ele entra numa igreja, ele, Scudder e seu parceiro justiceiro, os dois de repente, sem pensar duas vezes, tomam a hóstia sagrada. Comungam. É isso. Olhem o diálogo que se segue;

- Por que recebeu a reunião?

- Não sei.

- Você deve ter uma ideia.

- Não. Não tenho mesmo. Há uma porção de coisas que eu faço sem saber que estou fazendo. Metade do tempo não sei por que permaneço sóbrio, se você quer saber a verdade. E na época que eu bebia o tempo todo, também não sabia por que estava bebendo.

Antes, os dois têm uma conversa sobre a justiça divina, olhem só:

- Deus do céu!

- O que você quiser chamá-lo. O Poder Supremo, A Força Criativa do Universo, O Grande Talvez. Era assim que Rabeleis o chamava. Você achou que O Grande Talvez não estivesse à altura da tarefa de modo que cabia a você assumir o controle da situação?

- Não. Não foi isso. Eu pensei: posso deixar pra lá e um dia tudo vai se resolver como tem que ser. Mas eu queria vê-los mortos e simplesmente queria ser o f.d.p. a matá-los.

Incrível que depois dessa conversa, ele tome a hóstia. Ele na se desculpa, ele acha que fez justiça e pronto.

Os Pecados dos Pais – Uma moça é assassinada e seu companheiro sai pela rua, ensangüentado, gritando palavrões e mostrando o sexo aos que passam. É preso como assassino, mas se enforca na prisão. Matthew Scudder é contratado outra vez: um pai que não via essa filha assassinada há muito tempo quer saber como ela estava vivendo, por que foi assassinada e se foi mesmo o rapaz quem a matou. Só posso adiantar que o título Os Pecados dos Pais é totalmente apropriado.