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Receita de Samba-Enredo


Já sonhando, recebe a sinopse do enredo. Analisa se o tema é bom para a escola e, se gosta dele, já é um bom motivo para entrar na disputa do samba-enredo. Mas gostar só não basta para se fazer um bom samba. Tem que se apaixonar pelo enredo.Somente um compositor apaixonado tem condições de criar uma boa música. Mesmo motivado, não se deve começar a compor sem determinados cuidados. Geralmente dão-nos cerca de três meses para entregar o samba pronto e é bom ter paciência. Calma que o momento é importante. Um bom samba-enredo é que levanta o moral dos componentes, faz os mestres-salas e porta-bandeiras dançarem melhor, a bateria tocar com vontade…  No período de criação, não se deve escutar nenhum samba-enredo, nenhum samba de quadra. Aliás, não se deve ficar ouvindo samba de espécie alguma, porque a intenção é compor um samba totalmente inédito e tem que se policiar para não ser influenciado pelo som comum, ou o que é ainda pior, usar inconscientemente melodias já existentes, o que a gente chama de aceitáveis coincidências melódicas, mas que devem ser evitadas. Quando em processo de criação, é aconselhável "limpar os ouvidos" trocando os hábitos, isto é, fazer um esforço para ouvir música folclórica, ligar o rádio em programas de música clássica, curtir um som de rock, entrar na freqüência da música estrangeira ou não ouvir nada. Neste caso é necessário ficar bastante tempo sozinho, escutando o silêncio. É bom freqüentar os ensaios da escola para ficar no clima, mas prestar atenção na bateria, colocando-se bem próximo e, se possível, dentro dela para se entranhar com os sons e ir para casa com aquele ritmo na cabeça. Aí, não se precisa de violão nem de caixa de fósforos. O santo baixa, a inspiração vem. Com o tema totalmente absorvido, fecham-se os olhos, imagina-se a escola desfilando, as bandeiras girando, as baianas evoluindo, todo o mundo cantando, a platéia vibrando. Neste clima, o compositor cantarola, dança sozinho movido pelo ritmo que está dentro do cérebro. Sempre cantarolando, vai jogando com as palavras, criando a letra e, em pouco tempo, o samba está praticamente pronto. Daí pra frente vem a parte mais importante, que é a lapidação do diamante: o acabamento e a ornamentação, trabalho a ser feito com calma em outros dias.  De preferência entregar a tarefa para os parceiros que vão enriquecer a melodia suspender aqui, baixar acolá, costurar a poesia. Depois é ensaiar para os puxadores, caitituar, disputar na quadra, Ah! Como é tensa e emocionante uma final de samba-enredo! Vencida a batalha, o carnavalesco se inspira no samba para recriar as alegorias, a bateria vai se encaixando a ele nos ensaios, os componentes vão assimilando, imaginando o desfile e o compositor vai ficar feliz quando os autores que disputarem com ele dizem: - O nosso samba deste ano vai dar um olé na Avenida.