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Viva João, viva!


A maioria são marchados e próprios para o pula-pula dos salões, não para a passarela. Isso acontece porque os compositores fazem o samba pensando em empolgar as quadras e não nos desfiles. Quanto aos enredos, há muitos interessantes, inclusive, modéstia a parte, o que eu criei para a Vila – Singrando em Mares Bravios... Construindo o Futuro. Desfilaremos as caravelas da Escola de Sagres e os navios negreiros. Falaremos do Chico da Matilde que fez a Revolta dos Jangadeiros, exaltaremos a Marinha Brasileira e enfocaremos a construção naval. Contaremos a história da navegação marítima, desde a Arca de Noé até os modernos transatlânticos lotados de turistas  em busca de alegrias do carnaval. Logo que idealizei o enredo, mostrei ao Joãozinho Trinta e conviei-o a realizá-lo. O gênio ficou emocionado. Disse-me que coincidentemente já havia pensado em fazer um desfile com o tema e que o seu grande sonho era fazer um carnaval na Vila Isabel e nesta escola encerrar a sua carreira. Me emocionei também. Aí em pouco tempo ele me apresentou o projeto das alegorias. Dias após mostrou-me os desenhos das fantasias, adereços, comissão de frente. Então planejamos juntos a distribuição das alas, mestres salas, passista, bateria... Fizemos reuniões com os compositores e vieram os sambas. Foi uma safra de alto nível, mas dois se destacaram. Aí houve um impasse. Eu preferia um e o João o outro. Decidimos não interferir e deixar os componentes escolherem livremente e eles escolheram o melhor. Realmente o melhor samba deste ano. O mestre estava muito feliz e tranqüilo, mas teve um grave problema de saúde, permanece hospitalizado e dificilmente estará conosco na Sapucaí. E agora José? O Fernando Pamplona me ligou se prontificando a terminar o trabalho do seu pupilo que virou mestre, mas eu reuni a equipe de trabalho que já o acompanha há muitos anos – “são escultores, são pintores, bordadeiras, são carpinteiros, vidraceiros costureiras, figurinistas, desenhistas, artesãos... gente empenhada em construir a ilusão” e eles, e tranqüilizaram: “Martinho, o João é muito transparente. Sabemos tudo o que ele pensa e podemos realizar. Só precisaríamos dele para aprovar o nosso trabalho e isso você pode fazer”. Acompanhei tudo e posso afirmar que vai ser apoteótico. A Vila vai renascer das cinzas de maneira deslumbrante. Viva João! A esperança não pode morrer. Isso mesmo, viva, não se entregue. Viva para ver a sua possível maior obra em desfile.