O nosso homenageado nessa crônica está aqui por uma nota triste: esta lembrança é póstuma – e muito sentida por todos os artistas e curtidores da música popular brasileira, território livre em que ele tanto reinou. É o registro da nossa saudade do brilhante cantor e compositor Luiz Carlos da Vila, que a música, o Rio e o Brasil perderam no último dia 20 de outubro.
Amigo meu, de infância, entrou na adolescência pela porta que se abre para a maioria dos meninos de classe média baixa: a dos fundos. Trabalhando para ajudar os pais, comprar um par de sapatos novos por ano e uma entrada de cinema por mês, contando trocados para um cigarro ou uma cervejinha, visitas fortuitas ao baixo meretrício, uma falta absoluta de quase tudo. Sobrando, só as espinhas na cara.
Carioquíssimo do Bairro de Cavalcanti, o cantor de voz de veludo e compositor de canções de cetim Monarco (na pia batismal, Hildemar Diniz!) faz 75 anos neste 2008 (sei que não há quem diga, mas podem acreditar. Nasceu em 1933, no dia 17 de agosto). Está entre os mais brilhantes criadores de sua geração (incluindo aí a geração imediatamente anterior e a que vem logo a seguir) e é um poço de delicadeza e elegância. Escrevi uma vez, em crônica de jornal, que se tratava de um dos homens mais bonitos e dignos que eu conheço. Repito e volto a assinar embaixo.
Bar é o lugar onde a gente pára, não por falta de ter para onde ir; mas porque não há melhor lugar para se ir. No bar “da gente” (todo mundo é meio “sócio” do bar que adotou como o segundo lar – em muitos casos, o primeiro) a gente quer se sentir seguro, tratado com afeto e respeito. Do contrário, poder-se-ia parar numa boate, discotéque, lanchonete ou qualquer boteco de grife desses que se reproduzem aos montes por aí.
Luis Fernando Veríssimo escreveu uma crônica, deliciosa como todas as outras, imaginando um encontro entre o escritor argentino Jorge Luis Borges e o músico norte-americano Benny Goodman, esbarrando-se na porta do céu (morreram no mesmo mês e ano, em junho de 1986).