1 - Caminhando pela Rua Uruguaiana, sou abordado pelo garoto que distribui aqueles papelins de propaganda de casas de massagem, cheios de fotos de mulher pelada: – Aí, tio! Cabeça branca paga meia. A cara do Rio, né não?
Há quem diga que agosto é mês de desgosto, palavra agourenta, gosto amargo na alma por conta de coincidência de notícias ruins. Não creio nem penso assim. Prefiro encarar o bom e velho agosto como um mês igual a outro qualquer, capaz de nos seus trinta, trinta e um, vinte e nove ou até mesmo vinte e oito dias trazer notícias boas e notícias ruins, escancarar fatos bons, ruins ou nem tanto, começar e passar como passam os dias, a despeito da previsão dos tempos ou dos templos.
Nascido e criado no interior nordestino, sempre curti festa junina. Natal, carnaval, as folias santas ou profanas todas ficavam em segundo plano. Era no São João que o meu coração pulava fogueiras, no sentido físico e no figurado. Bigodinho feito a lápis, camisa de chita, calça remendada, limpo de memória, até hoje, o vômito na gravatinha de crepom após os tórridos porres de quentões e licores de jenipapo ou de maracajá.
Contam, sacaneando o autor ou o elogiando, que uma das mais lindas composições da MPB nasceu assim: um dia ele escreveu o verso “Se fizer bom tempo amanhã eu vou”. Um ano depois lembrou que precisava dar continuidade à letra e acrescentou: “Mas se por exemplo chover, não vou”. Claro que é brincadeira com a memória do maior compositor que a Bahia, onde nasceu em 1914 (no dia 30 de abril, mas pode-se comemorar todos os dias), legou ao mundo (Eu sei que temos Assis Valente, Batatinha, Gil, Caetano, Ederaldo Gentil... Mas, fazer o quê?). Também dizem as más línguas que o baiano opera em três velocidades: lento, lentíssimo e Dorival Caymmi. Pois foi lentamente que o Buda nagô dos cabelos e bigodes de algodão construiu uma das mais magistrais obras da MPB.
Nezim era um sujeito bacana. Muito bacana.Às vezes tomava umas canas (e quem não toma?), falava algumas bobagens (e quem não fala?), comprava fiado e esquecia-se de pagar (também, onde já se viu vender fiado a Nezim?). Nada que pudesse manchar a boa pecha que sempre o acompanhou. Era bacana, continuava bacana e ponto.