Os compositores João Nogueira e Paulinho Soares arrematavam uma pérola carnavalesca para o Clube do Samba no restaurante Alcazar, em Copacabana, onde o bloco hoje desfila (à época, foliava na Rio Branco). Lá pras tantas João se levantou para ir ao banheiro, quando casal na mesa próxima o reconheceu:
Ele nasceu do outro lado da Baía de Guanabara, em Niterói, no comecinho do século passado (14 de setembro de 1905). Estaria agora fazendo 110 anos. Mas é filho legítimo do Estácio de Sá, bairro do Rio de Janeiro que hospedou grandes sambistas e onde nasceu, em 1928, a primeira escola de samba, a Deixa Falar. O Estácio, aonde Ismael Silva chegou aos três anos de idade, já era reduto da malandragem, da cultura negra e do samba. Estava pertinho da Praça Onze; portanto, perto de Tia Ciata, de Donga, de João da Baiana, de Sinhô e de tantos bambas e bambambãs.
“Hoje é manhã de carnaval/Há esplendor/As escolas vão desfilar garbosamente/E aquela gente de cor/Com a imponência de um rei/Vai pisar na passarela”. (Dia de graça) Antonio Candeia Filho é samba e resistência. Um dos maiores nomes do samba, nasceu em 1935 (17 de agosto) e morreu em 1978 (dia 16 de novembro). Viveu apenas 43 anos, mas criou intensamente e deixou uma obra e uma história de vida que só enchem de orgulho seus pares e seus seguidores. Mito da resistência cultural brasileira, começou a fazer músicas ainda na adolescência, por inspiração caseira. Seu pai tocava flauta e carregava o garoto para as rodas de samba e de choro que ferviam em Oswaldo Cruz e Madureira. Virou compositor da Portela e, em 1953, antes de completar 18 anos, viu sua gloriosa agremiação de Madureira desfilar com um sambaenredo de sua autoria, As seis cartas magnas.
Pedrão tinha uma mulher em Copacabana – onde trabalhava como garçom em hotel de luxo – e outra no Estácio. Pegava bem cedo no trabalho, saía logo depois do almoço e passava o resto da tarde e comecinho da noite na Sá Ferreira com Edite. Dizia ser impossível dormir com ela porque morava com a mãe doente, a quem só ele dedicava cuidados.
Era uma noite entrando no dia que nem a lagarta de fogo nas folhas, devoradora.As irmãs chegaram das lojas no comércio onde trabalhavam e ligaram o rádio no programa Ronda Policial. Os irmãos chegaram do batente no bar onde cozinhavam, lavavam e serviam. Ficaram olhando para o tempo, um assoviando pro passarinho e outro coçando a cabeça do cachorro, enquanto as irmãs coavam café e faziam beiju de tapioca para elas e o irmão pequeno. Os maiores sempre comiam umas besteiras qualquer no trabalho, sobras do balcão, por isso já chegavam correndo para o banho.