Era quase um menino quando deixou Petrolina carregando uma mochila de miudezas e o sonho de se tornar menina. Chamava-se Sandoval, mas queria se tornar Valdite. Assim, o apelido continuaria o mesmo, Val, que servia para ambos os sexos.
De presente de Natal, Luís Pimentel nos envia três textos com o talento e a sensibilidade de sempre. Façamos então bom proveito.
Essa fábula é do tempo em que os bichos falavam. Contam que era uma vez um macaco, muito esperto e sabido (macaco sempre teve fama de ser esperto e sabido), que mandava e desmandava na floresta. Fora diretor e megachefe em não sei quantas estatais do reino animal. Chegara até a presidente da Câmara da Bicharada, fazia e acontecia. Havia sempre um monte de puxa-saco à sua volta, repetindo:
Meu pai perguntou por que você fez isto? e não perguntou mais nada. Não respondi coisa alguma nem sabia o que responder. Fiquei olhando ora para a parede, ora para o telhado, morrendo de vergonha.
Essa história me foi contada por um amigo, sabendo que eu a transformaria numa crônica. Esse amigo era um grande contador de boas histórias e um especialista no trato e no cultivo da amizade. Virgílio Rocha era diretor do jornal Copacabana, da Zona Sul do Rio de Janeiro, amigo do bairro e de uma quantidade enorme de gente por lá, e partiu precipitadamente dia desses, pouquinho antes de chegar a primavera; mas acredito que as flores, as mais bonitas, foram com ele. A historia é assim: