“Já desfiz quatro bibliotecas”, me conta uma amiga, que não tinha como carregar um número grande de livros para casas cada vez mais exíguas. Vendeu a sebos, o que nem sempre é um grande negócio, como descobriu outro amigo, um escritor, que recebeu uma quantia modesta por sua biblioteca, desfeita também por causa de mudanças. Tempos depois, soube que alguns daqueles volumes, autografados por colegas de ofício famosos, seriam leiloados, cada um com lance inicial superior ao que recebera pelo lote todo.
A Bienal do Livro no Rio de Janeiro deve atrair 700 mil visitantes durante dez dias ao Riocentro para encontros do público com autores de apelo popular, em sua maioria. Se as festas literárias promovidas por todo o país discutem dos grandes temas literários do momento a formas de disseminação da leitura, a Bienal cada vez mais investe na aproximação do leitor jovem com seus ídolos. Dos mais de 300 autores convidados, a metade é de escritores de literatura infanto-juvenil.
No encerramento deste inverno atipicamente rigoroso, pelo menos em termos cariocas, as notícias no setor são reconfortantes. As editoras festejam o discreto aquecimento das vendas em plena recessão, uma pesquisa aponta que 61% das crianças alemãs de seis a treze anos leem mais do que jogam videogames – o que não significa que elas venham a preferir a palavra impressa em papel à diversão nas telas, no futuro, mas dá alento à indústria quanto à sobrevivência do livro em qualquer formato. Então, que tal comemorar as boas novas e arranjar um bom lugar para ler um destes livros?
A inglesa Olivia Laing pertence a um grupo de escritores/pensadores da atualidade que escolhem um tema a partir de sua experiência pessoal, pincelando com situações vividas as observações que embasam suas teses. A apropriação do objeto de estudo atrai muitos autores que preferem deixar de lado o distanciamento científico/jornalístico para mostrarem ao leitor o quanto se inserem na pesquisa, sem fazer de sua vivência o roteiro da descoberta, como Roland Barthes em A câmara clara (Nova Fronteira, R$ 24,90 ), no qual a análise de fotografias de sua própria família se mistura à análise da narrativa existente em retratos de desconhecidos.
Mary Poppins, a simpática babá interpretada no cinema por Julie Andrews, nasceu rabugenta, arrogante e consciente de seus direitos trabalhistas. Em 1934, a australiana P.L. Travers lançava mais que um clássico de literatura infantil. Esta sátira à classe média britânica e sua interação com um novo tipo de empregado doméstico, que estabelece uma distância clara dos patrões, mostra-se bastante contemporânea, como se constata na nova edição ilustrada e comentada de Mary Poppins (Zahar, R$ 54,90).
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