Os limites entre a ficção e o jornalismo ficaram cada vez mais tênues desde o início do século XX. Sem entrar no campo do jornalismo literário, aquele que traz à tona as histórias além da notícia, mas que não ultrapassa as barreiras da realidade, a ficção tem se apropriado da objetividade em narrativas que misturam estilos, buscando apresentar diferentes pontos de vista ao leitor. Um dos gêneros mais populares no mundo – e de modesta repercussão no mercado brasileiro -, o thriller, sobrevive dessa mescla de noticiário para desenvolver personagens ambíguos (sem ambiguidade, não existe suspense) e desvendar crimes.
Foi nos anos 80 que li Parte de minha alma (Rocco, R$ 6 – em sebos), a autobiografia de Winnie Mandela, em que ela contava sua construção pessoal de militante aguerrida antiapartheid a partir do casamento e da prisão do marido Nelson Mandela, que passou 27 anos na cadeia. A vida conjugal se esfacelou pouco mais tarde. Winnie foi condenada por fraude financeira e cumplicidade em crimes violentos. Acabou ali meu encantamento pela autora daquele livro tão bonito, do qual acabei me desfazendo prematuramente. Gostaria de reler esta semana, quando Winnie morreu num semiostracismo.
Se hoje as narrativas que se contam aos pedacinhos ficaram restritas aos meios audiovisuais (em algum lugar do mundo ainda deve existir radionovelas), a indústria da literatura mantém seu lugar no panteão dos fascículos com as “séries” – livros que contam aventuras e desventuras entremeando personagens já citados em obras anteriores de um autor. Novidade, isso não é. No tempo dos folhetins, Alexandre Dumas continuou a saga de D’Artagnan, Porthos, Athos e Aramis em Vinte anos depois (Intrínseca, R$ 94). Os escritores de policiais geralmente têm um investigador que repete seus métodos em diferentes cenários, de Sam Spade ao detetive sem nome (de Dashiel Hammet), Hercule Poirot, Miss Marple, Tommy e Tuppence (de Agatha Christie), Phillip Marlowe (de Chandler). E claro, Sherlock Holmes, de Conan Doyle.
O sorriso que intriga o mundo há mais de 500 anos foi esboçado por uma mulher, cuja existência banal é motivo de dúvidas e especulações há um século. Autorretrato de Leonardo da Vinci travestido, chave para segredos da vida na terra são algumas das lendas e teorias cercam a Mona Lisa, pintura que coleciona superlativos desde que arrebatou a curiosidade mundial, a partir de 1911, quando foi roubada do Museu do Louvre e a imprensa fez um estardalhaço, catapultando a fama do quadro. Os muitos mistérios que cercam o quadro são levantados pela jornalista Dianne Hales, ao falar de Lisa Gherardini em Mona Lisa, a mulher por trás do quadro (José Olympio, R$ 54,90).
Stephen Hawking desafiou os limites humanos de resistência ao manter um corpo débil como receptáculo de uma mente alerta e destinada a ajudar a existência da humanidade. O diagnóstico de que a esclerose lateral amiotrófica (ELA) não lhe daria mais do que três anos de vida em 1963 foi a primeira barreira que derrubou: Hawking morreu esta semana, aos 75 anos, o mais longevo entre todos os que sofrem da doença degenerativa.
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