Lucas Santtana é um experimentador. A fobia ao usual remexe os seus miolos. Para ele, um avião não é apenas um monte de placas de aço que avoa fazendo com que as distâncias entre um ponto e outro diminuam, quase inexistam: o avião é um modo delirante.
Há duas semanas saiu o resultado do Prêmio Sesc de Literatura 2017, vencido por José de Almeida Júnior, entre 980 concorrentes na categoria Romance, e João Meirelles Filho, o primeiro dos 813 inscritos na categoria Contos. Um João e um José, dois nomes tão representantivos de nosso povo, ambos filhos, nos nomes que homenageiam os pais. Outros homens.
Marcelo Eloi, Marcelo China, Marcio Costa e Fernando Regis são o Toque de Arte. Além de tocarem samba, gênero que os lançou e até hoje é reverenciado por eles, os caras cantam o fino! Conheci-os ao ouvir seu segundo CD lançado em 2008. À época, não escondi a minha satisfação pelo fato de terem buscado a experiência do saudoso diretor musical no MPB4, Magro Waghabi, que criou quase todos os arranjos vocais do disco e ajudou a inoculá-los com o vírus do vocal – esse que, após contraído, não há remédio que cure: é para a vida toda. Sob suas bênçãos, o Toque de Arte chegou, cantou, tornou-se um bamba do samba, deu asas às suas vozes e cresceu – e aí é que está a grande sacada que os diferencia.
Há quem associe lembranças antigas a brincadeiras do recreio no colégio, a aromas de perfumes, da massinha do Jardim de Infância ou do do preparo de alimentos na cozinha, das viagens de férias. Minhas recordações são pouco sensoriais, quase sempre ligadas à literatura. Minha mãe lendo para mim as histórias em quadrinho no Globo. Meu pai me falando sobre a importância de ler Pavese. Os livros da Condessa de Ségur, de Laura Ingalls Wilder, Monteiro Lobato, a coleção de bolso com as obras de Shakespeare, que ganhei aos 12 anos, as tardes das férias dedicadas à leitura e releitura de novelas policiais e de exemplares do Mistério Magazine.
Mulher fortaleza, louca varrida, dona do nariz. Ares de menina – mulher de voz potente. Afinação de diapasão. Suingue negro na flor da pele. Pop, rock, baião, samba, balada, tango, tudo serve à voz de quem não se prende a um universo limitado – caminha sem se emparedar, sem tirar o pé do acelerador. Voa e paira sobre vilas e mundos. Navega em mil e uma águas: rasas, profundas, turvas, cristalinas, bravias, plácidas.
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