Nezim era um sujeito bacana. Muito bacana.Às vezes tomava umas canas (e quem não toma?), falava algumas bobagens (e quem não fala?), comprava fiado e esquecia-se de pagar (também, onde já se viu vender fiado a Nezim?). Nada que pudesse manchar a boa pecha que sempre o acompanhou. Era bacana, continuava bacana e ponto.
O leitor encontra um livro apaixonante, descobre um autor, lê tudo o que ele já produziu na vida, sentindo-se cada vez mais inebriado por aquela torrente de palavras, imagens, sentidos que a vida toma a cada página avançada. E aí chega aquele momento em que se depara com uma obra menor do escritor. Respira fundo, muda toda sua visão sobre ele ou confirma que os livros X, Y, Z são geniais e o K ou W não passam de exercícios sobre o mesmo tema?
Poderia ser a trama de uma novela policial, se a narrativa se fixasse na obstinação do protagonista em salvar sua amada de uma sobrevivência dolorosa, patética. Um argumento forte para documentário, um chamamento à precariedade dos tratamentos de suporte a pacientes crônicos. O drama da vida real vivido pelo aposentado Nelson Golla, que há dois anos, abraçou-se à mulher, Neusa, internada em uma clínica para idosos, acionando um artefato explosivo que deveria matar o casal. Neusa morreu, Nelson responde em liberdade ao processo pela morte da companheira de mais de cinquenta anos de convivência, sob os cuidados dos filhos, preocupados com a tendência ao suicídio na família do pai.
Quando uma revista de decoração está sem pautas novas, recicla um tema tradicional: “como montar sua biblioteca”. O texto oferecerá muitas sugestões arquitetônicas de requinte estético e total desconhecimento do produto a ser armazenado, com prateleiras ao rés do chão, deixando os livros sujeitos a receber camadas de sujeira transportadas por sapatos. E lindas estantes ladeando degraus de escadas, que também podem ser aproveitados para receber volumes. Quem imagina uma biblioteca dessas provavelmente desconhece que livro é um imã de poeira, uma incubadora de ácaros, traças, fungos.
Era quase um menino quando deixou Petrolina carregando uma mochila de miudezas e o sonho de se tornar menina. Chamava-se Sandoval, mas queria se tornar Valdite. Assim, o apelido continuaria o mesmo, Val, que servia para ambos os sexos.
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